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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O tesouro da Costa do Sol: biólogos descobrem novas espécies em Cabo Frio


O tesouro da Costa do Sol: biólogos descobrem novas espécies em Cabo Frio

  • Dez novos tipos de animais foram encontrados na Praia das Conchas

PAULO ROBERTO ARAÚJO
Publicado:22/12/12 - 22h07
Atualizado:23/12/12 - 9h28

O nudibrânquio Tambja stegosauriformis é uma espécie descoberta nos últimos anos, inicialmente em Arraial do Cabo e depois em Cabo Frio. Contém o composto tambjamina K, que apresenta atividade de combate a células de câncer em experimentos de laboratório Foto: Vinicius Padula / Divulgação

O nudibrânquio Tambja stegosauriformis é uma espécie descoberta nos últimos anos, inicialmente em Arraial do Cabo e depois em Cabo Frio. Contém o composto tambjamina K, que apresenta atividade de combate a células de câncer em experimentos de laboratório 
Vinicius Padula / Divulgação

RIO - Considerada excelente para banho por estar há anos livre da poluição, segundo análises do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a Praia das Conchas, no Peró, em Cabo Frio, não é um paraíso somente para os banhistas. Ela também é um refúgio ecológico de animais marinhos que somente agora estão sendo descobertos. Depois de nove anos de mergulhos no costão rochoso das Conchas, um grupo de biólogos encontrou e fotografou dezenas de espécies de invertebrados marinhos, sendo que pelo menos dez, de acordo com os pesquisadores, são espécies novas para a ciência. Alguns animais, em sua maioria nudibrânquios (pequenos moluscos marinhos sem concha), também foram encontrados em ilhas de Cabo Frio, em Búzios e Arraial do Cabo.
A descoberta traz à tona uma antiga reivindicação de ambientalistas para que a faixa litorânea que vai da Praia das Conchas a Tucuns, em Búzios, seja transformada em reserva extrativista, como a existente em Arraial do Cabo. O Parque Estadual da Costa do Sol, criado recentemente, protege apenas a parte costeira. Os recém-concursados guardas-parque são atuantes em terra, mas pouco podem fazer para combater a pesca predatória, feita por embarcações de outros estados, que dizimam a fauna marinha com a pesca de arrasto. Regularmente, a ONG Ondas do Peró, formada por surfistas e ambientalistas, realiza mutirões para limpeza das praias. A próxima campanha será em janeiro do ano que vem.
Biólogo marinho, mestre em zoologia pela UFRJ e doutorando da Universidade de Munique, na Alemanha, Vinicius Padula iniciou suas pesquisas nas Conchas em 2003. Com o tempo, outros biólogos juntaram-se a ele. Foram encontradas na Praia das Conchas, além dos moluscos, espécies nunca vistas de esponjas e planárias marinhas. Entre 16 tipos de esponjas encontradas pelo grupo de especialistas, cinco não eram conhecidas.
— Em cerca de nove anos de pesquisas, apenas na Praia das Conchas, 55 espécies de nudibrânquios foram encontradas, das quais dez nunca haviam sido vistas antes. Colegas fotógrafos submarinos e biólogos não acreditavam que algumas das fotografadas haviam sido achadas no Brasil. Acabou que tive que ir para a água com eles para mostrar pessoalmente essas espécies — conta Padula.

Inimigos na terra e no mar

Padula lembra que a região de Cabo Frio e Arraial do Cabo é favorecida pela ressurgência — fenômeno que leva à costa águas frias e ricas em nutrientes — possibilitando grande biodiversidade. Dentro da água, problemas com pesca predatória, embarcações velozes e o aumento da quantidade de dejetos, principalmente esgoto, são os maiores inimigos da fauna marinha.
O biólogo lamenta o número reduzido de estudos sobre a fauna marinha da região e garante que até mesmo os pesquisadores se surpreendem com a diversidade de espécies encontradas.
Depois de conhecer o estudo sobre as espécies encontradas na Praia das Conchas, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, disse que ele servirá como base para a ampliação da área marinha protegida no âmbito do plano de manejo do Parque da Costa do Sol:
— Na elaboração do plano, vamos ampliar a proteção para a área marinha com base nesse e em futuros estudos. Será um local destinado à pesquisa científica e ao turismo ecológico. O trabalho dos biólogos só aumenta nossa responsabilidade com a região.
Minc afirmou, ainda, que a pesquisa valoriza a briga pela preservação das espécies. Ele pretende pedir o material aos pesquisadores para produzir painéis de divulgação da riqueza da fauna local. Minc garantiu que os novos guardas-parque vão dedicar atenção especial à causa. O início da alta temporada na Região dos Lagos, com a chegada do verão, preocupa os biólogos.


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