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terça-feira, 27 de novembro de 2012

 

 

ONU diz que emissão de gases pode ultrapassar limite para 2020

Cumprimento de acordos climático não é suficiente, diz relatório.
Pnuma aponta que são necessários mais investimentos 'verdes'.


Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgado nesta quarta-feira (21) alerta que, mesmo se os países aplicarem até 2020 políticas públicas que ajudem a reduzir a emissão de gases de efeito estufa, o limite máximo proposto pelos cientistas para aquela data terá sido ultrapassado.
Esse limite representa para a ciência climática estagnar a elevação da temperatura global em, no máximo, 2 ºC acima dos níveis pré-industriais ainda neste século.
De acordo com o relatório “A lacuna das emissões”, em tradução livre do inglês, mesmo que todos os países cumpram nos próximos oito anos o que foi prometido em acordos climáticos firmados em conferências da ONU, delineados dentro da Convenção da ONU para Mudança Climática (UNFCCC, na sigla em inglês), eles ainda emitiriam 8 bilhões de toneladas (gigatoneladas) de gases a mais que o limite proposto para 2020.
O teto de emissões fixado por cientistas para 2020 é de 44 gigatoneladas de CO2 equivalente (medida que soma a concentração de dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e outros gases).

No entanto, há um cenário pior, caso nada seja feito. Se nos próximos oito anos nenhum governo cumprir o que prometeu e as políticas verdes deixarem de ser vistas como prioridade - acrescentando ainda o desenvolvimento econômico previsto para o período, as emissões de gases ultrapassariam em 14 gigatoneladas o limite calculado pelos cientistas.

Em comunicado, Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor do Pnuma, disse que a transição para uma economia de baixo carbono e uma economia verde inclusiva ainda acontece de forma lenta “e que a oportunidade de alcançar o alvo de 44 milhões de toneladas de CO2 equivalente diminui anualmente”, explica.
Mas ainda há solução, diz especialista
Segundo o brasileiro Ronaldo Seroa da Motta, pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e um dos autores do estudo, o relatório apresenta formas de como os países podem evitar o lançamento de gases excedentes se utilizarem como políticas públicas exemplos implementados e que já auxiliam na criação de uma economia global sustentável.
“Países já tomaram iniciativas por conta própria e essas políticas levaram a grandes reduções de emissões (...). A ideia é ampliar essas experiências, expandindo-as para níveis nacionais. A mensagem do relatório é que estamos ameaçando a trajetória que tenta evitar a elevação da temperatura, mas, mesmo com isso, há políticas que podem auxiliar na redução das emissões”, disse Motta ao G1.
De acordo com o estudo, com investimentos que reduzem o impacto ambiental em setores como a construção, geração de energia e transporte, é possível evitar a emissão de um total de 17 gigatoneladas de gases até 2020.

Construções e transporte verdes
O capítulo que cita projetos já realizados em alguns países mostra que no setor da construção civil é possível reduzir de 1,4 a 2,9 gigatoneladas de gases com a criação de habitações que colaborem mais com o meio ambiente.
As residências teriam de ser mais eficientes do ponto de vista energético (com a provável aplicação de matrizes renováveis, que usam o vento ou o sol para gerar eletricidade), reduzir gastos com ar condicionado ou aquecimento, além de controlar o fluxo de água, com a aplicação de sistemas de reuso e escoamento de efluentes.
Arte prédio verde (Foto: Editoria de Arte/G1)
Na questão dos transportes, Motta afirma que são necessárias ações imediatas para modificar o sistema atual, já que uma transformação que reduza o impacto nas emissões demoraria entre 10 a 20 anos para fazer efeito. “São áreas que precisam mudar rapidamente. Quanto mais cedo você modificar, mais rápido ocorre a redução de gases”, disse o especialista. De acordo com o relatório, é possível cortar entre 1,7 a 2,5 gigatoneladas de gases até 2020 com novos projetos.
O relatório cita, por exemplo, o caso da implementação do sistema BRT (Bus Rapid Transport) na Cidade do México. Em operação desde 2005, o BRT opera linhas que cobrem 95 km da capital mexicana, atendem 687 mil passageiros por dia e, segundo a ONU, evitam a emissão de 143 mil toneladas de CO2. No Brasil, Curitiba e Rio de Janeiro já operam esse sistema de transporte coletivo.
Todo investimento tem que ser feito até 2020 (...). Se nada for feito agora, [cortar o lançamento de gases] ficará muito mais caro"
Ronaldo Seroa da Motta, pesquisador da UERJ e um dos autores do relatório do Pnuma
Brasil é exemplo na questão florestal
Outro ponto citado por Motta no relatório é sobre redução de emissões por desmatamento e degradação (Redd), no qual se destacam o Brasil e a Costa Rica. Segundo ele, o controle de desmatamento de florestas no Brasil é exemplo devido à combinação de “decisões políticas, reforço institucional e grande capacidade de monitoramento”, disse.
Dado de 2011 do sistema conhecido como Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal), operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, apontou que a Amazônia Legal teve o menor índice de desmatamento dos últimos 23 anos, com uma perda de cobertura vegetal de 6.418 km² entre agosto de 2010 e julho de 2011 – uma área equivalente a quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Na época, o governo federal afirmou que havia sido a menor taxa desde que o instituto começou a fazer a medição, em 1988, com uma redução de 8% em relação ao mesmo período em 2009 e 2010.
Apesar do resultado positivo da política brasileira, Motta aponta a Costa Rica, um país com pouco mais de 4,3 milhões de habitantes, como um exemplo mais eficaz no combate à degradação florestal. O país já conseguiu estancar as taxas de desmatamento e agora investe no pagamento de serviços ambientais, tipo de política pública na qual, segundo o especialista, o Brasil precisa investir mais.
“Sabemos que a Costa Rica avançou muito mais até por ser um país pequeno. Mas  já temos iniciativas no Brasil, como o Bolsa Verde e o Bolsa Floresta (projetos que pagam para a população ribeirinha preservar áreas de proteção). Mas é necessário um projeto nacional que deve ser customizado regionalmente. O importante é que temos iniciativas, mas talvez precisemos acelerar mais a implementação delas”, explica.

Ainda segundo Motta, o momento de crise econômica que afeta parte do globo tem que ser visto como "uma janela de oportunidade" para a tecnologia limpa. "Todo investimento tem que ser feito até 2020. Depois dessa data, mais emissões terão que ser reduzidas de forma ainda desconhecida. Se nada for feito agora, [cortar o lançamento de gases] ficará muito mais caro", finalizou.


Imagem aérea mostra desmatamento na Amazônia. Perda da cobertura vegetal no bioma pode acarretar na extinção de diversas espécies de animais. (Foto: Divulgação/Toby Gardner/Science) 
Imagem aérea mostra desmatamento na Amazônia (Foto: Divulgação/Toby Gardner/Science)

Aquecimento causado por GEEs cresce 30% em 20 anos

 

 

Aquecimento causado por GEEs cresce 30% em 20 anos

Fonte: Instituto Carbono Brasil, Fabiano Ávila:

Nas últimas duas décadas, graças às emissões do dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) resultantes principalmente da queima de combustíveis fósseis, ocorreu um aumento de 30% no chamado 'forçamento radiativo', que quando positivo resulta no aquecimento global. Essa é a mais alarmante constatação do boletim anual sobre gases do efeito estufa da Organização Meteorológica Mundial (OMM). 

Divulgado recentemente, o documento destaca que desde o início da Era Industrial mais de 375 bilhões de toneladas de carbono foram liberadas na atmosfera, sendo que os sumidouros do planeta, como os oceanos e as florestas, absorveram apenas a metade disso.

“Essas bilhões de toneladas adicionais em nossa atmosfera continuarão presentes por décadas, causando ainda mais o aquecimento global e tendo impactos sobre todos os aspectos da vida na Terra. Futuras emissões vão se somar a esse acúmulo”, afirmou Michel Jarraud, secretário-geral da OMM.

O problema tende a se agravar, pois os sumidouros estariam perdendo sua eficiência. “Já vemos os oceanos ficando mais ácidos, com repercussões negativas na vida marinha. Existem muitas interações entre os gases do efeito estufa, a biosfera e os oceanos que ainda precisam ser entendidas”, completou Jarraud.

O CO2, apontado como sendo responsável por 85% do aumento do efeito estufa, já aparece com uma concentração de 390,9 partes por milhão (ppm) na atmosfera, uma elevação de 140% em relação ao nível pré-industrial, 280ppm. Em média, o CO2 subiu 2ppm por ano na última década.

De acordo com a OMM, o metano, segundo gás mais importante para o aquecimento global, tem 40% de sua origem em processos naturais e 60% resulta de atividades humanas, como a pecuária. A concentração do metano está em 1813 partes por bilhão (ppb), uma alta de 259% em duzentos anos. A presença deste gás na atmosfera havia estabilizado por alguns anos recentemente, mas desde 2007 voltou a crescer.

No caso do óxido nitroso a contribuição humana é de 40%, com o restante sendo proveniente de processos naturais. A sua concentração em 2011 está em 324,2ppb, 120% acima do período pré-industrial. Esse gás oferece outro perigo além de causar o efeito estufa, ele destrói a camada de ozônio que nos protege dos raios nocivos do sol.

“A rede de observação atmosférica da OMM se estende por mais de 50 países e providencia medidas acuradas nas quais baseamos nossas estimativas sobre a concentração de gases”, destacou Jarraud.
O Instituto de Energias Renováveis da Alemanha (IWR) divulgou que as emissões de GEEs em 2011 foram de 34 bilhões de toneladas, um novo recorde, ficando quase um bilhão de toneladas acima da marca de 2010, 33,2 bilhões. 

O IWR registra um aumento nas emissões dos países emergentes, principalmente da China e Índia. A notícia positiva é que as nações mais ricas, como os Estados Unidos e alguns países europeus, apresentam queda nas emissões. 

Essa redução foi confirmada nesta terça-feira (20) pelo relatório anual da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) sobre as emissões dos 42 países que formam o chamado Anexo I do Protocolo de Quioto, isto é, aqueles mais industrializados e que precisam cortar emissões.

Segundo o relatório, o corte total dessas nações entre 1990 e 2010 soma 14,6%, considerando as reduções provenientes do uso da terra e do reflorestamento.

Porém, a UNFCCC alerta que entre 2009 e 2010 as emissões dos processos industriais e de geração de energia cresceram respectivamente 3,1% e 9,7%.